Diariamente vemos os meios de comunicação anunciando resultados positivos em pesquisas científicas que buscam a vacina contra a Covid 19. Mas o tom quase festivo dos noticiários está longe da realidade. Tudo indica que, ano que vem, teremos mais de uma vacina, no entanto é uma insanidade falar em imunização em massa e erradicação do vírus.
Leio que uma das vacinas cobre 70%, outras 90% e algumas 95% dos que estão participando dos testes. Pior: uma delas produz efeitos colaterais que podem matar mais do que o próprio coronavírus. Para complicar mais um pouco, não é incomum uma vacina apresentar bons resultados em testes clínicos, mas fracassar quando aplicada na vida real.
O fato é que essa vacinação propalada pelos laboratórios e pela mídia será um tiro no escuro, com um risco muito alto para uma doença que não afeta mais que 20% da população e mata menos de 2%. Como não haverá vacina com 100% de eficácia, os vulneráveis vão cair na margem de erro e continuar morrendo. Os mais resistem terão sintomas leves ou serão assintomáticos, como já ocorre. Conclusão: a promessa de vacinar todo mundo, gastando fortunas, é impraticável e inócua.
Na hipótese de uma ou mais vacinas serem aprovadas pela Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária, ainda assim, serão inúmeros os obstáculos até que a imunização chegue às pessoas. Os problemas vão desde falta de insumos para a fabricação, transporte, refrigeração, estocagem e dinheiro para bancar uma logística gigantesca.
Pesquisadores da Royal Society, academia britânica de ciências, calculam que, a partir do momento em que uma dessas vacinas estiver disponível, será necessário pelo menos um ano para completar o primeiro ciclo de vacinação. Esse é um cálculo otimista para uma nação rica e pequena, como o Reino Unido. No Brasil, país continental, com mais de 200 milhões de habitantes, a escala de riscos e dificuldades é muito maior.
São muitas as dúvidas e incertezas que nos afligem nesse mar de desinformação e mentiras agitado por interesses bilionários, disputas políticas e muita incompetência científica. Certo é que, num ambiente tão poluído e opaco, muito dinheiro público está sendo gasto inutilmente. Enquanto isso, cidadãos e cidadãs são iludidos com falsas esperanças de imunização em massa e promessas de erradicação do coronavírus que nunca irão se realizar.
A única estratégia viável e eficaz é garantir a vacinação da população de risco, como idosos, doentes e profissionais de saúde. Vacinados, os vulneráveis ficarão mais protegidos contra a contaminação e contra complicações clínicas que podem levar à morte. Para o restante da população devem ser mantidas as medidas de prevenção, como lavar as mãos e usar máscara. É o mesmo princípio que rege as políticas públicas de controle da gripe, que funcionam muito bem no mundo inteiro. O resto é balela e especulação.
Está passando da hora de colocar os pés no chão, abrir o jogo, e aceitar que não há saída milagrosa. O coronavírus veio para ficar. Temos que aprender a conviver com ele assim como convivemos com a gripe e outras doenças virais. Acorda, gente!
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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