A força econômica mundial está se deslocando com grande velocidade para a Ásia, tendo a China como protagonista na concorrência com os Estados Unidos pela posição de maior potência global do Século 21.
A ironia é que a pandemia de Covid-19, que surgiu na China e se espalhou pelo mundo, será mais um dos fatores que levarão a Ásia a se fortalecer na correlação de forças internacionais.
No dia 01 de março, a China respondia por 90,3% dos casos de Covid-19, a Coreia do Sul por 4,2% e o Japão por 0,3%. Os três países – líderes tecnológicos da economia asiática – juntos respondiam por 94,8% dos casos e por 96,4% das mortes no início de março.
Mas esse quadro mudou completamente. Hoje os Estados Unidos são o epicentro da doença, com 2,8 milhões de casos registrados e mais de 129 mil mortes confirmadas.
A diferença é brutal. Desde o início da pandemia, a China, que tem uma população quatro vezes maior do que os EUA, registrou 83.557 casos de Covid 19, com 4.634 mortes.
Na esteira da pandemia, de acordo com o FMI, a depressão de 2020 será a maior contração anual da história do capitalismo.
Em 2020, a economia dos Estados Unidos deve sofrer uma retração de -8,0%, enquanto a China vai crescer pelo menos 1,0%. Em 2021, a previsão do FMI é de que a economia americana ainda vai apresentar um desempenho de -4,0% ao passo que a China deve crescer 8,2%.
A consequência geopolítica desses números é que o centro de gravidade econômico do mundo vai se deslocar com mais força e intensidade em direção à Ásia e, em especial, para a China.
Estamos diante de uma ameaça real ao capitalismo liberal e à democracia. A China comunista tem um projeto robusto de dominação econômica, política e cultural global e, para isso, não lhe faltam recursos financeiros, humanos e tecnológicos aplicados de forma autoritária por um Estado controlado há décadas pelo Partido Comunista.
Um estudo realizado pelo Mckinsey Global Institute (2012) mostra que a tendência de ocidentalização do mundo deu um “cavalo de pau” e agora está se direcionando para o Oriente numa velocidade estonteante. O que levou séculos para se deslocar para o oeste, desde as Grandes Navegações iniciadas por Cristóvão Colombo em 1492, agora faz o caminho de volta para o leste em questão de décadas.
A China já é líder na Revolução 4.0 e está à frente na tecnologia 5G que será fundamental no mundo de atividades virtuais do pós-coronavírus. O país também é o maior comprador global de terras, estratégia fundamental de produção alimentos e exploração mineral para atender às demandas da maior população do planeta, mas também é uma forma de controlar o mercado de commodities e a importação e exportação, entre ela, suas empresas e outros países.
Não podemos esquecer que a China é o maior investidor em infraestrutura de países pobres e em desenvolvimento. Entre 2005 e 2018, ela esteve presente nos cinco continentes e investiu cerca de US$ 1,9 trilhão. Isso equivale a 13 vezes o valor do Plano Marshall empregado pelos Estados Unidos na reconstrução da Europa depois da Segunda Grande Guerra.
O governo chinês também está investindo mais de US$ 100 bilhões em transporte e infraestrutura para conectar a Europa, o Oriente Médio, a Asia e a África — região de extrema importância geopolítica que passa pelo Oceano Pacífico, atravessa o Oceano Índico e alcança o mar Mediterrâneo.
Se consolidada, a chamada Nova Rota da Seda vai abrir mercados e zonas de livre comércio, criar áreas inéditas de abastecimento e distribuição de produtos, facilitar os deslocamentos por via terrestre e marítima e proporcionar grandes avanços na integração de seus participantes e de suas populações. Tudo sob o controle chinês.
No mercado internacional, a China já é um concorrente difícil de enfrentar. A maioria dos países têm altos custos de produção devido à legislação que protege os trabalhadores e o meio ambiente. Enquanto isso, os produtos chineses chegam ao consumidor a custos bem mais baixos, já que as empresas têm poucos gastos com direitos trabalhistas, assistência social e preservação ambiental.
Somemos a isso a decisão da China de criar uma moeda digital própria, competindo com o dólar no mercado global e fazendo frente aos Estados Unidos na relação com alguns países. O Irã, por exemplo, já aderiu à criptomoeda chinesa para enfrentar as sanções econômicas impostas pelos EUA. Logo virão Cuba, Venezuela, Rússia e outros governos totalitários.
A consequência disso tudo é que, no futuro, virão a ditadura, a exploração desmedida dos trabalhadores, a destruição da família e da propriedade, além da supressão da liberdade dos cidadãos.
Descontados os exageros das teorias da conspiração, não há dúvida de que a China é a origem dos piores ataques biológicos vividos pela humanidade nos últimos tempos e que têm sido dramáticos para a economia de grandes potências como Estados Unidos, França e Reino Unido.
A destruição provocada pela Covid-19 no Ocidente ainda não foi controlada e já se fala no potencial pandêmico de outro vírus descoberto em criações de porcos em várias províncias chinesas. Diante de ameaças biológicas imprevisíveis e desconhecidas a humanidade e os governos democráticos se veem cada vez mais indefesos.
Ninguém sabe direito em que condições essas doenças estão surgindo e se espalhando pelo planeta. O governo comunista chinês controla os meios de comunicação e impede a livre circulação de informações. A China exerce seu domínio não apenas na mídia local censurada, mas também na mídia global, que vem cedendo cada vez mais à pressão econômica de Pequim para fazer prevalecer sua versão sobre os fatos.
Nesse cenário de pânico e confusão, a China está sempre na frente. De um lado controla o conhecimento e de outro lucra alto com a venda de equipamentos, tecnologias, medicamentos e vacinas.
Não há dúvida de que estamos caminhando para uma nova ordem econômica mundial. Não sabemos se imediata ou mais à frente, mas certamente essa mudança está sendo imposta pela China. Enquanto os Estados Unidos têm déficits monstruosos a China apresenta grandes e constantes superávits.
A história ensina que onde está o dinheiro, está o poder político e a hegemonia cultural.
O que a China oferece ao mundo, no primeiro momento, são investimentos para atender às necessidades dos países. Mas, depois, por meio do poder econômico, pode reproduzir nessas nações todas as suas mazelas, como o Estado burocrático e autoritário, a corrupção, a censura, o ateísmo e a ausência completa de liberdades individuais.
Ainda há tempo de reagir à escalada comunista. Mas para isso, é preciso uma grande união dos governos democráticos, das empresas e dos cidadãos do mundo livre.
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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