O presidente Jair Bolsonaro tem princípios, vontade de acertar, é honesto, trabalhador e quer o bem do povo brasileiro. Mas comete erros primários. Ele sempre foi político, sabe como as coisas funcionam, por isso, deveria dar atenção aos ritos e às liturgias da Presidência e do relacionamento com os demais poderes da República.
O maior erro de Bolsonaro é misturar os interesses e problemas familiares com o governo. Família pode ajudar, mas não deve atrapalhar a governabilidade. Bolsonaro transforma problemas familiares em questões de governo, quando, na verdade, estas são dimensões distintas e até incompatíveis na maioria dos casos.
Os problemas do Flávio são do Flávio. Ou melhor, do senador Flávio Bolsonaro. O simples fato de ser senador já lhe confere visibilidade para ser investigado e até para ser perseguido. Todo político é passível de ser investigado e atacado por inimigos. Não é incomum políticos se verem diante de opositores procurando fatos para pegá-los em situações politicamente incorretas. Isso faz parte da vida pública e dos atritos políticos. Raramente as vítimas destas manobras são filhos de presidentes.
É um abuso o senador Flávio Bolsonaro alegar que está sendo perseguido porque o pai é presidente da República. Ele é investigado por suspeita de prática do crime de peculato, conhecido como “rachadinha”, em seu mandato de deputado estadual do Rio de Janeiro. E é perseguido por ser um homem público importante, um senador da República que, aliás sabe colecionar inimigos, como aconteceu com o governador Witzel.
É um erro o presidente Bolsonaro convocar reunião ministerial para tratar de pendências do filho senador perante a justiça. Não há justificativa para envolver ministros em um assunto que não é de governo. É inadequado e ilusório acreditar que conseguiria apoio dentro de ministérios para proteger o filho. Só os lambe-botas entram nesse tipo de canoa furada.
Bolsonaro age corretamente quando procura o Centrão para se blindar contra um eventual processo de impeachment. Mas nem o Centrão, nem nenhuma coalizão partidária podem dar segurança a um presidente que usa seu capital político para resolver problemas familiares sem se preocupar com os atritos institucionais e enfraquecimento político, que essa conduta acarreta.
Bolsonaro tem que levantar a bandeira da paz.
Nós, apoiadores, podemos alertá-lo dos riscos e ajudá-lo a desembaralhar o jogo democrático mas, ele precisa querer.
É o momento de agir como estadista, abrir o diálogo.
Bolsonaro deve promover a harmonia e a cooperação com o Congresso Nacional e com o Supremo Tribunal Federal.
Os filhos devem ser comunicados publicamente que, para o bem do Brasil, a partir de agora, cada um deve assumir seus riscos e problemas.
Cabe a Bolsonaro arrefecer o discurso radical de seus apoiadores. É hora de desarmar os ânimos.
O gabinete do ódio tem que ser transformado no gabinete paz e amor.
O ódio precisa ser dirigido apenas contra as esquerdas.
O presidente tem que buscar mais diálogo, ouvir mais, negociar mais, rearticular os ex-aliados e trazer outros parceiros para próximo do governo.
A caneta deve ser usada a favor daqueles que se somarem aos seus projetos, a favor do Brasil e contra as esquerdas e os inimigos de plantão.
Outra alerta importante que o presidente deve ouvir atentamente, diz respeito à manutenção da estabilidade da área econômica do governo. Bolsonaro não pode nem pensar em dividir o ministério da Economia ou substituir o ministro Paulo Guedes. Aí, entornaria o caldo de vez.
O presidente Bolsonaro precisa levantar a bandeira da paz para todos. Deve deixar que cada filho resolva seus problemas de “rachadinha” ou de fakes news. São adultos, devem responder por seus atos. Cada um precisa cuidar da sua vida para que o presidente da República se concentre em promover a união nacional e em gerir o país neste momento de múltiplas crises: sanitária, política, econômica e social.
Bolsonaro não tem saída. Só a conciliação pode lhe garantir o mandato e a governabilidade. Os militares não vão se aventurar em manobras à margem da Constituição por causa de seus problemas familiares.
Continuar na criação de conflitos só vai enfraquecer sua imagem e sua popularidade.
O Congresso, apesar do acordo do Presidente com o Centrão, não lhe será leal se a popularidade cair e os desgastes familiares e de relacionamento aumentarem. Nesta hora, todos se voltarão contra ele e oferecendo apoio ao impeachment, inclusive os militares, que veriam em Mourão, um general do Exército, uma grande solução e uma saída honrosa para eles. Depois do segundo ano de mandato, basta um acordo do vice com os oficiais-generais e com a imprensa, principalmente as Organizações Globo, para acabar o mandato de Bolsonaro.
O Congresso e o STF só esperam este momento e a sociedade, cansada de tantas crises e perdas, não demoraria a aderir.
A verdade é que os filhos de Bolsonaro não têm percebido a dimensão e não compreendem a gravidade do momento vivido pelo Brasil e pelo Presidente.
Uma pena porque o País estava indo bem!
Em relação à pandemia, o presidente Jair Bolsonaro fez tudo certo, mas não soube se comunicar com a sociedade. Ele alertou para os riscos muito antes, argumentou que fechar a economia não resolveria a crise sanitária e ao mesmo tempo prejudicaria o país e as famílias, como agora está confirmado.
Por outro lado, Bolsonaro não liderou o esforço nacional de prevenção à Covid 19. Por meio do ministério da Saúde, o Presidente poderia ter coordenado o combate ao coronavírus, com orientações e medidas de proteção aos idosos e doentes, além de campanhas educativas de incentivo ao uso de máscaras, cuidados com a higiene e atenção ao distanciamento social.
Não assumiu a frente e fez pior: deu o péssimo exemplo de andar sem máscara, promover e participar de aglomerações.
Apesar dos erros, o governo tem um bom projeto e o presidente Bolsonaro tem um desejo sincero de acertar.
Acredito no Presidente e no seu projeto para o Brasil, por isso repito: devemos apoiá-lo por que é bom para o Brasil. Mas ele precisa mudar!
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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