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Clésio Andrade

Bolsonaro trai os votos que recebeu

Ninguém vê o presidente Jair Bolsonaro falar em privatização. Sinal de que não quer fazer, não vai fazer, e sempre foi contra. Enganou a todos nós.


Tem uma distorção aí: todo governo de direita privatiza e todo governo de esquerda adora estatizar. Bolsonaro faz um governo de direita, logo deveria privatizar tudo que é possível.


Bolsonaro foi oportunista. Se apresentou como liberal, usando o prestígio de Paulo Guedes mas, na verdade, se comporta como um esquerdista estatizante.


Bolsonaro, quando deputado, votou contra o Plano Real, votou contra a quebra do monopólio das telecomunicações e do petróleo. Bolsonaro votou contra a reforma administrativa, contra o cadastro positivo e a favor do regime especial de aposentadoria para deputados e senadores.


Bolsonaro parece inebriado pela possibilidade de reeleição. Ele dá a entender que quer afastar o ministro Paulo Guedes e dar as costas ao projeto liberal para se render às tentações populistas e tentar conquistar votos de esquerda.


“Economia é com o Guedes!” Era isso o que mais se ouvia na campanha eleitoral de Bolsonaro. Ele próprio fazia questão de afirmar que não entendia do assunto e deixaria as decisões econômicas nas mãos do respeitado Paulo Guedes. Enquanto falava em combate à corrupção, costumes e liberação de armas, repetia sempre: “Economia é com Guedes”.


Quer queira quer não, Bolsonaro está umbilicalmente amarrado ao projeto liberal e precisa muito do Paulo Guedes para isso. Se mudar, neste momento, ficará desmoralizado e antecipará a quebra do país. Nesta hora, é bom um pouco de humildade para virar um grande estadista.


Das 150 estatais da União, mais de 100 não precisam de autorização do Congresso Nacional para serem vendidas. Basta uma canetada do presidente. Além disso, hoje, Bolsonaro tem total controle do Congresso Nacional. Ou seja, tem condições objetivas de privatizar todas as 150 empresas que pesam no bolso do contribuinte e atrasam o desenvolvimento do País.


Os gastos públicos só aumentam. Temos uma dívida perigosamente próxima de 100% do PIB. A economia não cresce, o funcionalismo público continua privilegiado sem redução de salários e com emprego garantido, enquanto a maioria caminha para o desemprego em massa, anunciando uma crise social sem precedentes.


Sem vender estatais, o governo não tem como custear um novo auxílio emergencial para milhões de famílias afetadas pela pandemia de Covid 19. Em vez de privatizar e fazer as reformas, falam em mais endividamento. Estas são idéias populistas que deveriam ter sido banidas pelo governo do presidente Bolsonaro.


O presidente Jair Bolsonaro precisa descer do palanque e começar a governar o Brasil de acordo com o projeto liberal que o elegeu. Tem que voltar a ser o liberal que o País elegeu. Se insistir em soluções populistas e eleitoreiras, vai desmoralizar o liberalismo e jogar definitivamente o país no buraco e para a esquerda.


Ainda há tempo de corrigir os rumos do governo. O presidente Bolsonaro tem todas as condições para isso. Tem um projeto de governo liberal e austero, conta com bons ministros, dispõe de apoio total do Congresso e ainda desfruta da confiança de grande parcela da sociedade.


O governo precisa de algo em torno de R$ 200 bilhões para viabilizar o auxílio emergencial por mais dois anos. A única forma de levantar esses recursos, sem estourar o caixa, é a venda imediata de empresas estatais.


Será preciso agir com estratégia e ousadia. Na mesma PEC de criação do novo auxílio emergencial o governo deve colocar a autorização de venda das empresas estatais estabelecendo um valor equivalente ao necessário para tocar o Programa Emergencial. Feito isso, o Tesouro Nacional deve antecipar o valor a ser arrecadado com as privatizações e receber o mesmo montante de volta a partir da vendas das empresas estatais.


Só depende da decisão do presidente e de uma articulação com o Congresso Nacional para que tudo seja feito o mais rápido possível.


O momento é grave. Tem que fazer as escolhas certas. Se optar pelo caminho do populismo, Bolsonaro estará decretando a derrocada total do Brasil e a sua própria queda.


Precisamos continuar apoiando o Presidente Bolsonaro e seu projeto liberal mas, ele precisa ficar mais humilde e entender que economia se não muda toda hora, pois afugenta os investimentos internacionais de que tanto precisamos. E nem pensar em demissão do Guedes, porque aí entorna tudo. Se o Brasil quebrar, Bolsonaro cai junto!!!



Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT

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