O Centrão ganha tempo, finge que está com Bolsonaro, mas não está. Já percebeu que o presidente não tem firmeza, equilíbrio emocional e posicionamento liberal como pregou na campanha. Bolsonaro usou Paulo Guedes para se eleger, mas não permite que as reformas e privatizações avancem.
Não é à toa que grande parte do Centrão está indo na direção de Lula e outra parte trabalha pensando numa terceira via para as eleições presidenciais de 2022. A terceira via é difícil de viabilizar, ma não impossível. Uma alternativa seria o senador Rodrigo Pacheco que, neste momento, demonstra liderança, autonomia e firmeza para se tornar um grande presidente do Congresso e, quem sabe, um nome competitivo para disputar a presidência da República.
Uma coisa é certa. Bolsonaro está perdendo apoio. Além do Centrão, já se afastou do presidente parte significativa do empresariado e muita gente do povo que perdeu o emprego e segue sem perspectiva de arrumar outra colocação.
Bolsonaro deixou o projeto liberal de lado e se fechou. Tem cedido cada vez mais ao corporativismo dos militares e dos funcionários públicos. Teve muitas oportunidades de realizar as reformas e as privatizações, mas preferiu encher as estatais de militares como se fosse a grande solução para se equilibrar no poder. Mas não é.
As estatais são como uma doença incurável. Ninguém pode consertá-las. Estão dominadas por grupos de interesses políticos, econômicos e funcionais. São ineficientes e sustentam uma elite de servidores públicos improdutivos, beneficiados por altos salários e uma infinidade de regalias. Custam caríssimo ao contribuinte e não dão os retornos esperados ao País. A única solução é privatizar tudo, mas o presidente não entende.
Com esta política ultrapassada e prejudicial ao desenvolvimento econômico brasileiro, Bolsonaro se isola e mantém fiéis ao seu governo errático apenas os seguidores de extrema-direita, que não chegam a 25% do eleitorado. Quanto mais se afasta do projeto que o elegeu, mais o governo se enfraquece e Bolsonaro vai ficando cada vez mais distante da reeleição.
Bolsonaro se tornou um problema para si mesmo e para o Brasil. Age como se fosse o dono da verdade, tem mais compromisso com os filhos problemáticos do que com o país, cria conflitos desnecessários, e se movimenta politicamente com tanta instabilidade que produz um mar de desconfiança ao seu redor. Até os mais dedicados apoiadores estão perdendo a fé. Ele dá canseira. Usou Guedes e o liberalismo para se eleger, mas nada tem de liberal. É uma desilusão.
O centrão, o empresariado em geral, e a grande massa de trabalhadores desempregados, que não querem a volta da esquerda, começam a caminhar na direção de uma terceira via para 2022. Esta pode ser a grande solução para o Brasil.
O cenário atual aponta para uma terceira via com potencial para disputar o segundo-turno com a esquerda, deixando Bolsonaro do lado de fora. Outra configuração pode ser uma aliança da terceira via e Lula para enfrentar Bolsonaro no segundo turno. Ou seja, em qualquer arranjo do tabuleiro político, o jogo estará desfavorável à reeleição do presidente.
Ainda tem muita água para passar por baixo da ponte até 2022, mas quem desrespeitar a direção da correnteza, pode se afogar.
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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