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Clésio Andrade

Crise de alimentos: vamos fechar os olhos para mais uma tragédia anunciada?

A crise mundial na produção de fertilizantes deve provocar efeitos em cadeia no mundo e, especialmente, na vida dos brasileiros. Com os altos preços e abaixa oferta de adubos no mercado internacional, os agricultores já estão encontrando dificuldades para plantar e podem reduzir as próximas safras. Já no ano que vem, há risco de queda na oferta de alimentos, com impacto na inflação, na geração de empregos e nas exportações de produtos agrícolas, entre outros prejuízos.


Os preços dos fertilizantes no Brasil subiram até 140% este ano e a oferta destes insumos está baixa, além dos problemas logísticos apresentados na importação, como a falta de containeres. As principais causas deste desequilíbrio são a crise energética na China e o inverno rigoroso na Europa. Os maiores produtores desses insumos, China e Rússia entre eles, estão desviando os estoques de gás natural para atender as demandas internas de abastecimento e, para isso, reduziram o fornecimento do combustível utilizado na produção de adubos destinados à exportação.


O Brasil não precisaria sofrer mais esta crise. O país todas as condições de ser auto-suficiente e até exportador de fertilizantes. Mas somos dependentes das importações. Isso ocorre por desinteresse e insensibilidade da Vale e da Petrobras, que controlam as nossas grandes jazidas de gás natural, fósforo, potássio e nitrogênio. É um absurdo! Um atentado aos interesses nacionais.


Enquanto países desenvolvidos fazem a gestão de seus recursos naturais e energéticos pensando no interesse da população, aqui no Brasil, a Vale e a Petrobras (uma empresa pública, veja que ironia), só pensam na própria comodidade e nos interesses de seus acionistas. Não produzem e não deixam que outras empresas de fertilizantes atuem no Brasil. Controlam o mercado de maneira mesquinha e prejudicam toda a sociedade.


Uma situação desta gravidade exige posicionamento rápido e firme do governo federal. Precisamos que o presidente Jair Bolsonaro tome providências para evitar mais uma tragédia anunciada.


Se a capacidade de produção e de exportação do agronegócio for abalada, a cambaleante economia brasileira irá definitivamente para o buraco. A inflação, que já está nas alturas, pode explodir. A crise social corre o risco de sair do controle, pressionada pela carestia, pela escassez de alimentos e pela fome, que a cada dia assombra um número maior de famílias.


Uma crise de alimentos no maior produtor agrícola do mundo seria a desmoralização completa do Brasil. É hora de chamar a Vale e a Petrobras às suas responsabilidades.


Em ano eleitoral, como 2022, um quadro dramático como esse não será nada favorável ao país e a quem pretende disputar a confiança e o voto dos brasileiros.

Presidente, a experiência mostrar que as crises se anunciam com antecedência. Mas quem fecha os olhos, no final, paga a conta a omissão.


É a vida e o futuro do Brasil que estão sem jogo.



Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT



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