“Economia é com o Guedes!” Era isso o que mais se ouvia na campanha eleitoral de Bolsonaro. Ele próprio fazia questão de afirmar que não entendia do assunto e deixaria as decisões econômicas nas mãos do respeitado Paulo Guedes. Enquanto falava em combate à corrupção, costumes e liberação de armas, repetia sempre: “Economia é com Guedes”.
Nessa mesma campanha, autorizado pelo candidato, Paulo Guedes falava a favor das reformas e das privatizações; da modernização do Estado e do respeito ao teto de gastos.
Todos acreditamos que tudo seria privatizado; que o governo faria as reformas para desinchar o Estado e sobrar recursos para saúde, educação e segurança pública. Mas, até agora, já na metade do mandato, muito pouco, além a reforma da Previdência, foi feito no campo econômico.
Ninguém vê o presidente Jair Bolsonaro falar em privatização. Sinal que não quer fazer, não vai fazer, e sempre foi contra. Enganou a todos nós.
Tem uma distorção aí: todo governo de direita privatiza e todo governo de esquerda adora estatizar. Bolsonaro faz um governo de direita, logo deveria privatizar tudo que é possível.
Das 150 estatais da União, mais de 100 não precisam de autorização do Congresso Nacional para serem vendidas. Basta uma canetada do presidente. Além disso, hoje, Bolsonaro tem total controle do Congresso Nacional. Ou seja, tem condições objetivas de privatizar todas as 150 empresas que pesam no bolso do contribuinte e atrasam o desenvolvimento do País.
O ministro Paulo Guedes, os apoiadores de Bolsonaro e todos nós fomos enganados.
O País está caminhando para a esquerda. Os gastos públicos só aumentam. Temos uma dívida perigosamente próxima de 100% do PIB. A economia não cresce, o funcionalismo público continua privilegiado sem redução de salários e com emprego garantido, enquanto a maioria caminha para o desemprego em massa, anunciando uma crise social sem precedentes.
Sem vender estatais, o governo não tem como custear um novo auxílio emergencial para milhões de famílias afetadas pela pandemia de Coronavírus. Em vez de privatizar e fazer as reformas, falam em mais endividamento e pensam em criar novos impostos. Estas são idéias populistas que deveriam ter sido banidas pelo governo do presidente Bolsonaro. Insistir neste caminho é o cúmulo da traição.
O presidente Jair Bolsonaro precisa descer do palanque e começar a governar o Brasil de acordo com o projeto liberal que o elegeu. Se insistir em soluções populistas e eleitoreiras, vai desmoralizar o liberalismo e jogar definitivamente o país no buraco e para a esquerda.
A grandeza dos palácios costuma confundir os governantes. O brilho do poder cega e distancia os líderes da realidade. Nada mais ilusório. Esquecem que chegar ao poder é mais fácil do que se manter nele. Bolsonaro acredita ser um governo messiânico, até tem boas intenções, mas precisa entender que não há soluções mágicas para problemas sanitários, sociais e econômicos graves como os que o Brasil está enfrentando.
Ainda há tempo de corrigir os rumos do governo. O presidente Bolsonaro tem todas as condições para isso. Tem um projeto de governo liberal e austero, conta com bons ministros, dispõe de apoio total do Congresso e ainda desfruta da confiança de grande parcela da sociedade.
O governo precisa de algo em torno de R$ 200 bilhões para viabilizar o auxílio emergencial por mais dois anos. A única forma de levantar esses recursos, sem estourar as contas públicas, é por meio da venda imediata de empresas estatais.
Será preciso agir com estratégia e ousadia. Na mesma PEC em que será criado o novo auxílio emergencial o governo deve colocar a autorização de venda das empresas estatais estabelecendo um valor equivalente ao necessário para tocar o Programa Emergencial. Feito isso, o Tesouro Nacional deve antecipar o valor a ser arrecadado com as privatizações e receber o mesmo montante de volta a partir da vendas das empresas estatais. Esta é a solução para salvar o Brasil, a população e o próprio governo Bolsonaro. Só depende da decisão do presidente e de uma articulação com o Congresso Nacional para que tudo seja feito o mais rápido possível.
O momento é grave. Tem que fazer as escolhas certas ou iremos definitivamente para a esquerda.
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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