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O Brasil arde na fogueira das vaidades

  • Clésio Andrade
  • 29 de set. de 2020
  • 4 min de leitura

Enquanto questões cruciais, como reformas do Estado, recuperação econômica, emprego e estabilidade social resvalam nas disputas políticas menores, o Brasil vai perdendo a capacidade de se tornar uma nação competitiva, próspera e justa.


Este ano, segundo o IBGE, mais 1,3 milhão de empresas brasileiras fecharam as portas. E das 4 milhões de firmas que ainda resistem, 70% registram impacto negativo causado pelas restrições adotadas na pandemia de Covid 19. A gravidade desses números se traduz em altos índices de desemprego, menor produção de riquezas, mais pobreza e mais insegurança para todos.


Sem perspectiva de mudança desse quadro crítico, a inflação já começa a subir, as bolsas caem, o dólar sobe e os investidores fogem em busca de mercados mais seguros e promissores.


Há motivos suficientes para que governo, Congresso Nacional, judiciário, setores empresariais, imprensa e toda a sociedade se unam em um esforço de salvação nacional. No entanto, o que temos visto é uma fogueira de vaidades atiçada por disputas pessoais e interesses de pequenos grupos.


Cabe aos líderes políticos tomar a iniciativa de promover uma união de forças em favor do país e de sua população sofrida. Sabemos que parte significativa da economia é movida por expectativas positivas ou negativas e isso depende muito da percepção que predomina entre as pessoas, instituições e mercados. Ou seja, a forma como se dá a comunicação com a sociedade é fundamental em momentos de crise.


Está na hora de o governo Bolsonaro abrir e ampliar o diálogo com os mais diversos setores sociais, políticos e também com a imprensa. O momento exige flexibilidade e acordos razoáveis.


Uma negociação razoável com o Congresso, por exemplo, implica em liberação de verbas para obras nas bases políticas dos parlamentares. Esse tipo de arranjo é legitimo e facilita o relacionamento com o Congresso. Não dá para simplesmente fechar as portas sob o argumento da moralidade pública. Deputado é cargo de prestígio e não um instituto do roubo e da malandragem. Se, eventualmente, houver roubo, o governo atua, demite, denuncia, e segue em frente.


O governo não precisa, necessariamente, dar o que a imprensa quer receber, mas deve contratar espaços para a divulgação objetiva de suas mensagens. Uma aproximação equilibrada com os grandes veículos de comunicação, especialmente com as Organizações Globo, pode contribuir muito para a reversão desse quadro de instabilidade.


O grande problema não é a crítica e a fiscalização da imprensa sobre o governo. O que complica é que, nas mãos dos inimigos - da esquerda, do Congresso e do STF –, a produção da mídia se transforma em munição contra o governo e em instrumento de promoção de adversários. Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre que o digam.


Já o campo da internet é dominando pelo presidente Bolsonaro, seus filhos e aliados, que adotam uma estratégia agressiva, sem espaço para composições e para o necessário diálogo republicano. Isso também dificulta o equilíbrio entre os Poderes.


A internet deve ser usada para exaltar os feitos do governo, que não são poucos, e para buscar a adesão da sociedade a seus projetos. A comunicação digital tem que deixar de ser arena de destruição de reputações e de ataques a parlamentares, ministros do STF e outros adversários. O grupo do presidente tem que deixar de ser briguento e raivoso e precisa parar de bater nas pessoas e instituições. É hora de construir pontes, avançar.


O governo também precisa parar de buscar soluções mágicas para problemas concretos. Furar teto de gastos, aumentar impostos e inventar pedaladas fiscais só dão mais munição ao lado de lá. O ministro da Economia, Paulo Guedes, tem razão de estar cansado, mas não pode abandonar o compromisso com as reformas profundas do Estado brasileiro. A política é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. Muitas vezes, os insistentes e ardilosos vencem os favoritos e mais preparados.


Os presidentes da Câmara e do Senado dominam melhor esse jogo e, há tempos, estão surfando na onda da mídia antigovernista, seja para alcançar objetivos pessoais, seja para defender interesses de grupos que representam. Alcolumbre só pensa na própria reeleição à presidência do Senado. Está correndo de votação de propostas impopulares. E Rodrigo Maia, como representante do sistema financeiro, jamais vai apoiar projetos como a criação de uma nova CPMF imaginada pelo ministro Paulo Guedes. Maia também pensa em reeleição. Aliás, nessa fogueira das vaidades, todos estão se movimentando de olho na reeleição.


O presidente Bolsonaro foi eleito por suas posições claras e por seu compromisso de consertar o Brasil. Hoje, seu governo conta com os melhores índices de popularidade. A sociedade compreende e apoia seu ideário político, econômico e social. É preciso persistir no projeto liberal de modernização do Estado e de abertura da economia. O governo tem tudo para dar certo. Basta contornar as armadilhas impostas pelos jogos de poder e aprimorar a estratégia de diálogo e negociação política, sem se desviar do rumo traçado. Fora isso, quem perde é o povo e o Brasil.



Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT


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