A Petrobras engana o governo e os brasileiros em sua abusiva política de preços de combustíveis. A empresa está prejudicando a economia e o desenvolvimento do país para cobrir os custos dos escândalos de corrupção, da ineficiência e do corporativismo estatal. Chega de bancar privilégios.
A Petrobras está entre os 10 maiores produtores de petróleo do mundo e tem um custo de produção comparável aos países da Opep, mas os preços dos combustíveis ao consumidor interno são muito mais altos.
O custo médio de produção da estatal brasileira está em torno de US$ 9,70 por barril, atrás apenas da Arábia Saudita (US$ 7,98/barril) e abaixo de outros grandes produtores, como Iraque, Kuwait e Venezuela, cujos custos de produção variam entre US$ 10,00 e US$ 15,00, o barril. Na Rússia, o custo de produção está em US$ 18,00 por barril. É o dobro do custo brasileiro, mas na hora do preço ao consumidor, a situação se inverte.
A comparação entre os grandes produtores mundiais revela o disparate e a má fé da Petrobras. Segundo o Global Petrol Prices, em 25 de janeiro, a gasolina custava US$ 0,467 na Arábia Saudita, no Iraque US$ 0,513, na Rússia US$ 0,526, nos Estados Unidos US$ 0,720, na Venezuela US$ 0,020 e, no Brasil, astronômicos US$ 0,842. Convertendo para real, enquanto aqui a gasolina estava em R$ 4,59, na Arábia Saudita era R$ 2,67, na Rússia R$ 2,87 e na Venezuela R$ 0,10. No caso do diesel é a mesma coisa. No Brasil o litro custa US$ 0,673. Nos Emirados Árabes US$ 0,561, na Rússia, US$ 0,630 e a Venezuela, o diesel é de graça. Dizer que segue os preços internacionais é balela da Petrobras.
Pesa também sobre esses preços, o abusivo ICMS dos estados, que não deveria ser superior a 10%.
Nada justifica o preço dos combustíveis no Brasil. Além de ser grande produtora e de ter um dos custos mais baixos de extração de óleo bruto, a Petrobrás paga tudo em real. Com exceção de alguns equipamentos importados, os grandes custos da empresa, como salários, pesquisa e desenvolvimento e insumos, são cotados na moeda brasileira.
Faz tempo que a Petrobras não é do povo. Hoje, a empresa representa os interesses de uma minoria: seus empregados, políticos corruptos, empreiteiros e alguns fornecedores. Para a maioria dos brasileiros – transportadores e caminhoneiros em particular – só ficou uma enorme conta a pagar.
O passivo da Petrobras está na casa dos US$ 80 bilhões, mesmo depois de saldados cerca de US$ 31 bilhões em dúvidas nos últimos dois anos. Outro exemplo: quantas vezes a empresa já cobriu rombos do Petrus, o Fundo de Pensão dos funcionários? Hoje o déficit desse fundo é de R$ 40 bilhões.
Estamos bancando a ineficiência, os altos salários, o excesso de benefícios, mordomias, gordas aposentadorias, o rombo causado pela corrupção do PT e o endividamento resultante da operação lava-jato.
Os caminhoneiros não devem fazer greve, precisam ajudar o Brasil, mas têm toda a razão quando condenam e protestam contra a nefasta política de preços da Petrobras. E o marqueteiro ministro da infraestrutura, Tarcísio de Freitas, mal-informado ou enganado pela Petrobras, precisa sair do canto do ringue, se informar mais e parar de repetir as bobagens que a empresa dissemina como se fossem verdades.
Ao invés de fazer greve e prejudicar a população brasileira, os caminhoneiros deveriam cercar a sede da Petrobras e os palácios dos governos estaduais. Com esse tipo de pressão, certamente o problema seria rapidamente resolvido.
A Petrobras tem que ser privatizada imediatamente para estancar os sucessivos prejuízos ao Brasil e aos brasileiros. O governo deveria distribuir as ações da empresa à população. Assim, faria distribuição de renda e a Petrobras estaria automaticamente privatizada.
Infelizmente, a Petrobras continua com o monopólio do refino e da fixação de preços. Outras empresas não conseguem importar petróleo ou gasolina e diesel por não terem refinarias e reservatórios. Quando tentam furar o bloqueio, a Petrobras boicota e compra o depósito. Isso faz muito mal para o Brasil. A exclusividade da política de combustíveis tem que ser da União e não monopólio da Petrobras, que continua. Os preços dos combustíveis devem ser geridos pela ANP – Agência Nacional de Petróleo, como ocorre na energia elétrica (Aneel) e nas telecomunicações (Anatel), entre outros setores estratégicos.
Se forem ditados e controlados pela ANP, por meio de uma planilha justa, com certeza, os preços dos combustíveis podem cair 30% na entrega para as distribuidoras. E, se os governos estaduais limitarem o ICMS em 10%, os preços da gasolina e do diesel ao consumidor podem chegar à metade do que é praticado atualmente.
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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