O país está parado há três meses. Nada indica que o isolamento social tenha evitado o curso natural da epidemia de Covid 19. O novo coronavírus continua infectando pessoas e a rede de saúde vem mostrando capacidade de responder à demanda por leitos e respiradores.
O único efeito concreto e devastador do isolamento social forçado por governadores e prefeitos é o desastre econômico. Milhares de empresas já fecharam as portas. O número de falências não para de crescer, o desemprego se alastra, milhões de famílias estão sem sustento e a fome já é uma triste realidade em todo o país.
É impossível impedir o ciclo natural da pandemia. O vírus está entre nós e vai continuar aqui. A crise econômica, o desemprego e o desastre social, também são uma realidade. O Brasil precisa voltar à normalidade imediatamente. Esta é a única forma de evitarmos uma tragédia ainda maior.
As estatísticas da pandemia não deixam dúvidas. O setor produtivo parou, mas a população continua circulando. O falso isolamento criou um clima de férias remuneradas. As pessoas continuam se divertindo, indo a bares, se reunindo em festas e praças e acabam contaminando seus idosos em casa.
Governadores e prefeitos fizeram essa loucura, criaram um falso isolamento que não resolveu nada e nem resolveria. Ao contrário, está criando problemas maiores e mais graves: o grupo vulnerável está sendo contaminado e, ao mesmo tempo, a imunização geral da população vem sendo protelada.
Isso é péssimo pois, segundo os infectologistas, esse tipo de vírus só perde força quando atinge mais de 70% da população. Até agora, menos de 20% dos brasileiros tiveram contato com o novo coranavírus. Ou seja, o vírus está ganhando tempo para fazer mutações e se adaptar. Está ficando mais forte.
*Isso indica que vamos conviver com o novo coronavírus por muito tempo, assim como já convivemos com a gripe comum, com o H1N1, com o HIV e com uma infinidade de vírus que nunca desapareceram.
Resumo da tragédia: destruíram a economia por nada e estão persistindo no erro. Governadores e prefeitos sabem que o isolamento é um fracasso, mas não querem dar o braço a torcer, nem perder a exposição diária na mídia. São ambiciosos e irresponsáveis. Preferem levar o Brasil à degradação total e deixar a conta para o governo federal pagar.*
Tudo é jogo de interesses, pura guerra política. E, nessa disputa, o que menos importa é a vida das pessoas ou o futuro do nosso país.
Cada dia que passa, mais a crise se aprofunda. Para que a economia retorne o mais próximo possível do normal será necessário muito recurso público através do aumento do endividamento do país, que já é muito alto.
Mesmo assim, mesmo com o socorro do Estado, uma boa parte das empresas não conseguirá reabrir as portas. Milhões de desempregados não voltarão rapidamente ao trabalho, os autônomos vão levar muito tempo para se reerguerem.
Além de alocar recursos para apoiar a reabertura das empresas, o governo terá que criar benefícios, protelar dívidas e criar fortes programas sociais para que as pessoas não morram de fome.
Tudo isso pode e deve ser feito, mas será um sacrifício muito alto. O governo terá que emitir moeda e lidar com o risco de descontrole da inflação, entre outros graves problemas. Essa operação de socorro tem que ser feita de uma só vez e com resultados imediatos. Tem que ser um tiro certeiro. A economia não aguenta uma nova tentativa.
Haverá repique da pandemia, até pela pouca quantidade de pessoas imunizadas até o momento. Será que os insanos governadores e prefeitos fecharão as fronteiras novamente? Criarão novo período de isolamento? E se ocorrer mais vezes, continuarão inventando períodos de isolamentos?
Nada é simples nesse buraco em que nos meteram. Imagine que depois de um sacrifício imenso, de muito dinheiro público gasto e de um alto endividamento, isto ocorra.
Nenhum dos governos, políticos ou gestores públicos acabou com os privilégios, reduziu salários do funcionalismo público, nem reduziu a máquina pública. O Congresso Nacional também nada fez nesse sentido.
Com o país quase todo parado e sem arrecadação de impostos, ficam prejudicados o atendimento básico da população como saúde, educação e segurança. Nenhuma economia aguenta isto!
Basta dar uma volta nas avenidas das grandes cidades para ver o alarmante crescimento da miséria e do número de pessoas sem teto. O que vem a seguir é o aumento da violência. Não a violência pura e simples, mas a violência que decorre da fome, da luta pela sobrevivência.
A violência será agravada por pessoas famintas invadindo e saqueando os supermercados, pela revolta nas ruas, ou seja, uma verdadeira desorganização social.
É preciso ter responsabilidade. São vidas em risco! Haverá muito mais mortes pela fome do que o coronavírus pode atingir. É o futuro de milhões de crianças, a sobrevivência de famílias inteiras.
Os governadores e prefeitos, com seu poder de decisão, devem pensar na conseqüência de seus atos. Passou da hora deles tomarem juízo!
Clésio Andrade, empresário, empreendedor social, foi vice-governador de Minas Gerais, ex-senador, ex-presidente da CNT - Confederação Nacional do Transporte e fundador do SEST SENAT
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